Brawl Star e educação financeira: deu match
Deixa eu te contar como uso o videogame para ensinar sobre dinheiro para meu filho
- “Mãe, libera mais tempo aí no Brawl Star, por favor? Preciso terminar uma jogada e está acabando”
Não sei como é na casa de vocês, mas o jogo do Brawl Star invadiu o nosso dia a dia. Foi rápido e nem sei de onde saiu o tiro. Quando percebi, meu filho já estava fissurado. Apesar de passar horas ouvindo-o me contar sobre as “skins” e sobre “desafios”, não sei se entendi direito como é o jogo. Ele encontra os amigos online e lutam contra outras crianças em um ambiente. Vence o último que fica vivo (acho que é isso, um lance meio Jogos Vorazes, mas travestido com personagens fofinhos).
Olho para ele jogando e lembro de mim com o Sim City. Eu já chegava em casa e corria para a tela do computador para construir a minha cidade e dominar o mundo (modo ditador sempre, claro, porque sim). Bem, eu era mais velha do que a idade que ele tem hoje, 9 anos, mas não é nada fora da curva um menino de 9 anos estar fissurado em videogame. Ok.
No entanto, estava me incomodando esses pedidos de “mais tempo” o tempo inteiro. Ele tem um tablet monitorado. Se autobloqueia após duas horas de uso, que é o tempo de tela fixado pela nossa família. Mas claro que duas horas não são suficientes para vencer todas as batalhas do Brawl Star e subir de nível. Então... lá vem o “mãaaae, o tempo está acabando, me salva!”.
Foi então que meu lado Poliana estalou os dedos: “gestão de recursos escassos”. É isso! Vou usar o jogo para ensiná-lo a gerenciar recursos escassos. No caso, o “tempo de tela”.
- Filho, quero fazer um combinado: o seu tempo de jogo extra, além das duas horas combinadas, vai funcionar como um empréstimo com juros. Se você solicitar 30 minutos a mais, vou descontar 45 minutos do tempo de amanhã. Vai querer?
Como quem se encanta com o canto da sereia de um agiota, ele topou imediatamente. A possibilidade ficar com tempo reduzidíssimo no dia seguinte sequer foi cogitada. Como bem ensina Daniel Kahneman, o cérebro sempre buscará o prazer imediato. É preciso treino e esforço para trazer as nossas escolhas para o lado racional e avaliarmos futuro e consequência. Se já é difícil para um adulto fazer isso, imagina para uma criança. Por isso é importante treinar desde cedo. E estamos treinando com o joguinho.
No dia seguinte, claro que o tempo ultra reduzido não dava. E como um endividado no meio da bola de neve dos boletos, ele queria mais tempo. Mas dessa vez ele ficou esperto e ponderou sobre os “juros das horas extras”. Bingo! Foi a deixa para falar: é assim que funciona com o dinheiro também, filho. E com tudo na vida. Comida, tempo, dinheiro, trabalho, deveres... é preciso saber administrar o tempo dedicado para cada coisa na vida.
O excesso de hoje é a escassez de amanhã. Não só de dinheiro, principalmente de tempo de vida. Se hoje você procrastina, amanhã vai estar atolado de tarefas. Se hoje você se entope de comida, logo em seguida passará mal ou ganhará muito peso e poderá ficar doente. Se gastamos todo o nosso dinheiro em um só dia, depois não temos para usar no resto do mês.
E você deve estar se perguntando: que legal, então ele aprendeu e nunca mais pediu “tempo emprestado”, certo? Claro que não! Isso só funciona em livros de ficção. Ele vai errar de novo. Vai pedir novos “empréstimos”, como já aconteceu. Mas esse é o esperado no processo de aprendizagem. E, para falar a verdade, na vida.
Nós, humanos, não somos robôs e nem somos perfeitos. Vamos errar. Vamos falhar. E tudo bem. O objetivo aqui é conseguir enxergar onde foi erro e, a cada dia, falharmos menos. E assim avançarmos em direção aos nossos sonhos a passos cada vez mais rápidos e lineares.
Eu erro pra caramba. Puxa vida... mas cada vez menos. Nossos filhos também. E tudo bem.
P.s: Em tempo, o joguinho é legal também para educação financeira pois ensina a administrar os prêmios recebido nas batalhas. Vira e mexe conversamos sobre “comprar uma nova skin agora ou economizar para comprar uma melhor no próximo dia”. Ou “comprar um kit no dia do lançamento ou esperar ficar mais barato em algumas semanas”… Mas, lembre-se: é preciso se envolver junto com a criança no jogo e ir orientando, conversando e aconselhando as escolhas… ;-)